“Chega mais para perto e fale o que quiser”. Este verso da música que o rei Roberto fez para cantar com Chitãozinho & Xororó mais a relação que ora faço com adultos ocupando “as cadeiras” da obra “Jardim de Infância”, de Lia Menna Barreto, me lembram a hospitalidade do gaúcho que “ao sabor do chimarrão proseia sobre sua vida”, mesmo com desconhecidos, porque estes logo se tornam seus amigos.
Amizades deste tipo – ao primeiro contato – amizades rápidas e conversas com objetivos comuns deveriam acontecer entre os profissionais de qualquer escola. Acolhimento sincero para quem chega; um convite à roda de amigos e colaboradores que irão trabalhar no objetivo de acolher sempre novos alunos, novos na série ou novos no ingresso ou por transferência. O ritual de criação de vínculos virá em auxílio e, em muito, na aprendizagem. Se o adulto precisa se sentir seguro no ambiente de trabalho, quanto mais os alunos precisam sempre se sentir seguros em mãos e ambientes diferentes.
Assim, poderíamos cantar na escola: “Aluno chega mais pra perto/pergunta o que quiser/o professor está aqui/vai sempre te auxiliar”. Quão bom é sentir-se acolhido e contar com novos amigos no ambiente escolar, quer sejamos alunos ou profissionais da educação, porque todos temos carências e necessidades que somente “o olhar amigo de alguém” pode fazer a diferença.
. Cadeiras – Parte II
“Amigo arrasta uma cadeira
Chega mais pra perto e fale o que quiser
Fale o que tiver vontade”
Fazendo aplicação à prática pedagógica, destes versos, no ensino fundamental: é comum, no currículo por atividades, o uso da técnica “Hora da Novidade”, pelo menos uma vez por semana, quando cada aluno pode contar “o que tiver vontade”, reunidos em círculo ou de outra forma, compartilhando com todos acontecimentos relevantes na família, rua, bairro, noticiários ou presenciados no trajeto da escola .Dependendo do nível da turma, dá-se sequência com atividades de expressão escrita em qualquer componente curricular ou simplesmente expressão artística.
Tenho boas lembranças do uso desta técnica com alunos do pré-escolar, num Projeto de Verão, implantado na escola estadual do Balneário Pinhal, aplicada diariamente, culminando sempre com a exposição dos desenhos produzidos num quarto da folha de ofício no mural, o que permitia à criança mais explicações espontâneas mesmo em outro dia. Surge a questão: se é tão bom e produtivo com “os pequenos”, por que não usamos variações com “os maiores”, como por exemplo, o Álbum da Novidade (ou diário)?
Portanto, um projeto assim pode nascer da necessidade da criação de entrosamento com colegas e professores, e continuado pela necessidade de fazer mais e mais amizades. Seja pela expressão oral, escrita ou artística e, de forma quase natural, pode dentro do ambiente escolar, o que hoje ocorre via “internet” e os mais variados meios de relacionamentos, com a vantagem de podermos conhecer, de fato, quem é o nosso amigo.
Cadeiras – Parte III
Mesmo que nos chamem de bregas, deveríamos utilizar partes de músicas como “Arrasta Uma Cadeira”, música que tanto me inspirou nessa atividade, onde pude fazer relações com as imagens revistas no Curso e relembrar boas aulas produtivas que desenvolvi ao longo da carreira profissional.
Experiência marcada por atividades em círculo, tanto na apresentação inicial de um projeto, quando dispensava as cadeiras e sentava com os pequenos no chão. Com os alunos maiores do ensino fundamental, tanto como docente ou substituta e em qualquer componente curricular, nunca deixei de aproveitar bem atividades descontraídas, com o que a maioria dos alunos mais gostam de fazer, ou seja, “jogar bola”, incentivando sempre os mais tímidos a participarem da “rodinha”. Depois, em sala de aula, aproveitava para conversar e fazer sugestões.
As cadeiras em círculo são um convite para conversas pedagógicas produtivas, mas não podemos esquecer de cumprir bem nosso papel de mediadores entre os alunos falantes e os alunos tímidos que podem muito bem ser comparados àquelas imagens de cadeiras quebradas, que precisam de alguém habilidoso no seu conserto. Em sala de aula, este é o papel do professor: transformar defeitos em qualidades, E os piores alunos são os que mais precisam de bons professores.
“Minha Viola”
Este é o título da música infantil que mais usei durante a docência ou como substituta com turmas do ensino fundamental.
Relembro do jeito maroto do Rafael – 1°ano do ensino fundamental de 9 anos, da escola estadual – turma que substitui no último dia antes da aposentadoria. Ao ver-me, começou a cantar, imitando o toque da viola. Foi o único da turma que decorou a letra com base nas notas musicais.
O paralelo que ora traço com a obra da artista que nos inspira mais uma vez no Curso e, que talvez nos inspire mais na vida, é que a viola também convida à roda de amigos e, mesmo que só um saiba tocá-la, todos podem cantarolar as canções que forem sendo ensaiadas.
Na escola , há um ensaio diário ao toque de um instrumento invisível para que todos possam acompanhar no seu ritmo o toque do(s) professor(es) para que, durante as atividades, todos possam ver o valor do esforço em estudar e participar ativamente.
Que professor não deseja que todos os seus alunos acompanhem o ritmo da turma para poder avançar nos conteúdos e, de tempos em tempos, em círculo parar para conversar, avaliando assim o seu trabalho pedagógico e oportunizando a cada aluno uma auto-avaliação do próprio desenvolvimento.
Se eu estivesse no lugar do professor, cantaríamos versos das músicas preferidas (Minha Viola etc.), e alguém (rei Roberto) ou uma dupla (Chitãozinho & Xororó) ou trio (Roberto Carlos e a dupla...) ocuparia o centro da roda (Show de Talentos) em sala de aula. E poderíamos encerrar cantando : Foi bom criançada (ou garotada)/ Foi bom, foi muito bom!
Fontes inspiradoras:
* Obra "Jardim da Infância", Lia Menna Barreto.
* Música "Arrasta Uma Cadeira", de Roberto Carlos.
* Música infantil “Minha Viola”