segunda-feira, 11 de julho de 2011

Recordações & Saudades

A vida do adulto contem retalhos ou pinceladas de recordações com gosto de saudade. Os pessimistas é que dizem “que recordar é sofrer duas vezes.” Porém, como ter saudade saudável, sem recordar? Senti muita saudade ao preparar as caixas de recordação pra aula presencial do dia 15 de julho. 

           A caixa de papelão contém peças de louça da mãe; louças que muito lavei com cuidado (não quebrei uma única peça em vários anos) e organizei no “armário grande” feito por meu pai. Mesmo antes de “mamãe” adormecer na morte (nunca a chamei de mamãe; desde pequena, pra não dizer “senhora”, repetia a palavra mãe), devido às circunstâncias da vida, suas louças continuaram aos meus cuidados em minha casa. Depois de sua morte, passei às mãos de minhas irmãs o que eram suas preferências. Acabei ficando com a maior parte, e a louça que sempre tive encanto é este delicado conjunto de cafezinho ou chá. E o pequeno cálice? Hoje, meu esposo pede-o pra fazer brincadeiras na hora de servir um aperitivo pros amigos.

             A outra caixa foi presente da pessoa mais afetiva que já conheci. Prezo muito a sua amizade, e não vejo a hora de poder chama-la de cunhada (meu irmão está em processo de divórcio litigioso). Recoloquei, na caixa, a bolsa que já me rendeu ótima atividade em sala de aula, com o 1º ano do Ensino Fundamental de Nove Anos, da Jaque (véspera da aposentadoria especial, como professora estadual). Acrescentei, ainda, na caixa outros objetos muito preciosos: a gravata e o suspensório do Jessé, hoje, com quase 15 anos; a gravação da minha monografia, e pequenos mimos de crochê feitos por irmãs (Testemunhas de Jeová) queridas.

             E as últimas caixas são caixas vazias de bombom. Uma está realmente vazia, e a outra contém pequenos objetos para os ditados concretos, atividade que realizava como substituta, com turmas do currículo por atividades. Ao apresentar as caixas, pela 1ª vez, a turma pensava que ia ganhar bombom; era uma risada uníssona, quando descobriam a caixa vazia e o conteúdo da outra, que aos poucos ia passando pra caixa vazia, conforme sua concentração na atividade.

Enfim, recordar e sentir saudades pode também nos fazer pessoas melhores e com mais sensibilidade, principalmente, para com os sentimentos das pessoas que nos cercam. Basta sabermos tirar preciosas lições de vida e das boas recordações, que vão se acumulando, com o passar do tempo, na caixa da memória.
Içami Tiba, ao encerrar o texto poético ''Saudade'', ainda, afirma:
                 Saudade é uma sensação tão forte / que, mesmo sabendo que estou me despedindo, / gostaria mesmo é de estar chegando, / como se nunca tivéssemos nos separado.
É utopia pensar que nunca vai haver, em nossa vida, a separação de pessoas queridas ou objetos preciosos; é bom viver como se nada de bom de nossa vida fosse acabar. Mas, quando vem a realidade, fica a saudade, que necessariamente não precisa doer.


Fonte de pesquisa:
Tiba, Içami - Educação & amor / Içami Tiba. - São Paulo : Integrare Editora, 2006. 

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